'A Palavra do Senhor permanece eternamente.
E esta é a palavra do Evangelho que vos foi anunciada' (1 Pd 1,25; cf.Is 40,8).
Muito amados irmãos e irmãs, 'praticantes da Palavra, e não meros ouvintes...' (Cf. Tg 1,22):
Não sou pessimista. Não quero ser pessimista. Apesar de todas as atuais evidências, resisto à tentação de ser pessimista perdendo, assim, as esperanças de tempos mais iluminados pela Palavra. Uma imagem visível do pessimismo são as trevas, a escuridão. As realidades sociais, econômicas e, até, muitas das realidades religiosas são manifestações inequívocas da escuridão e das espessas trevas que envolvem o mundo, as pessoas e as coisas. Faço essa referência sempre encarando a realidade à luz da fé. De fato, mirando os horizontes do mundo moderno, acabamos por nos convencer - sempre procurando contemplá-los com os olhos de Deus - que caminhamos, a cada dia com maior celeridade, para um completo distanciamento dEle, o que significa um distanciamento da Palavra, de Jesus, Verbo eterno do Pai, no qual 'estava a vida e a vida era a luz dos homens' (Jo 1,4). Entretanto, depois de tantos séculos 'a luz continua brilhando nas trevas, e as trevas, todavia, não conseguem vislumbrá-la' (Cf. Jo 1,5). Ao me referir a estas palavras joaninas, tenho certeza de estar na mais abalizada das companhias, pois os mais recentes documentos do Magistério eclesiástico são demasiadamente pródigos na análise da realidade ao ressaltar, sobretudo, muitos dos seus aspectos dolorosamente obscuros.
Eis que acaba de vir à luz um precioso documento do magistério eclesiástico que lança raios de luz intensa sobre os nossos caminhos nem sempre bastante iluminados. Movido por meu próprio entusiasmo pelo que esse documento significa para toda a Igreja, mas especialmente para os Movimentos eclesiais - e, aqui faço uma referência especial ao Movimento de Cursilhos que se define como querigmático-vivencial - iniciei a redação de uma série de artigos sobre essa Exortação e, nesta carta, meus sempre benévolos leitores, permito-me partilhar com vocês algumas considerações sobre esse tão importante Documento do Papa Bento XVI. Trata-se da Exortação Apostólica Verbum Domini sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja (VD).
Julgo oportuno lembrar que uma Exortação Apostólica é um documento-síntese redigido pelo Papa depois de uma Assembléia Geral de um Sínodo da Igreja Católica. O Sínodo é uma instituição surgida depois do Concílio Vaticano II e, periodicamente, reúne representantes dos Episcopados do mundo inteiro e alguns convidados de outras crenças religiosas. Suas sugestões e reflexões são encaminhadas ao Papa que lhes dá sua chancela de documento oficial do magistério eclesiástico. Uma Exortação Apostólica, portanto, é um documento que manifesta a comunhão eclesial dos nossos Pastores. E, como em todos os demais documentos eclesiais, neste também, o Papa - em três momentos-chaves ou em três partes - ao mesmo tempo em que proclama, ensina e questiona o povo de Deus.
Primeiro momento: a Palavra de Deus. É necessário lembrar que o Papa afirma que a VD terá como referência medular e constante o Prólogo do Evangelho de João. O Deus-Pai-Amor que pronuncia a sua Palavra desde toda a eternidade é 'O Deus que fala': 'comunica-se a si mesmo por meio do dom da sua Palavra' e 'A Resposta do homem ao Deus que fala', entre outras preciosas considerações, apresenta 'O pecado como não escuta da Palavra de Deus' e, finalmente, nos aponta 'Maria, ‘Mãe do Verbo de Deus' e ‘Mãe da fé'': '...por isso é necessário olhar para uma pessoa em Quem a reciprocidade entre Palavra de Deus e fé foi perfeita, ou seja, para a Virgem Maria'. A seguir, mostra-nos como deve ser a relação entre a Palavra de Deus e a vida da Igreja. Pergunte-se: você é ouvinte assíduo da Palavra? Como a está ouvindo? Como está a ela respondendo? Você a está testemunhando?
Segundo momento: a Palavra na vida da Igreja. É fundamental que cada cristão católico sinta-se membro e participante do Povo de Deus, 'Igreja que acolhe a Palavra'. E que, naturalmente, esteja sempre aberto e disponível para descobrir ou re-descobrir no interior da Igreja as múltiplas oportunidades que ela nos apresenta para vivenciar a Palavra. E, sobretudo, vivenciá-la em comunhão como nos adverte Bento XVI: 'A este propósito, porém, deve-se evitar o risco de uma abordagem individualista, tendo presente que a Palavra de Deus nos é dada precisamente para construir comunhão, para nos unir na Verdade no nosso caminho para Deus. Sendo uma Palavra que se dirige a cada um pessoalmente, é também uma Palavra que constrói comunidade, que constrói a Igreja. Por isso, o texto sagrado deve-se abordar sempre na comunhão eclesial'. Pergunte-se: sua vivência eclesial está sempre em sintonia com a Palavra legitimamente anunciada pela sua Igreja? Ou você costuma interpretá-la ao seu bel prazer ou de acordo com sua conveniência do momento? Ou se presta somente para você citá-la de vez em quando?
Terceiro momento: a Palavra no mundo. Aqui está o momento missionário e essencial da VD. Que alegria poderemos experimentar se conseguirmos 'Anunciar ao mundo o ‘Logos' da Esperança'! Meu irmão: leia, por favor, o parágrafo 91 da VD. Enquanto isso, vá saboreando a escolha que o próprio Jesus faz de você para ser seu missionário e anunciador da Palavra: 'Não podemos guardar para nós as palavras de vida eterna que recebemos no encontro com Jesus Cristo: são para todos, para cada homem'. E o anúncio necessita ser confirmado pelo testemunho de vida: 'Antes de mais nada, é importante que cada modalidade de anúncio tenha presente a relação intrínseca entre comunicação da Palavra de Deus e testemunho cristão; disso depende a própria credibilidade do anúncio. Por um lado, é necessária a Palavra que comunique aquilo que o próprio Senhor nos disse; por outro, é indispensável dar, com o testemunho, credibilidade a esta Palavra, para que não apareça como uma bela filosofia ou utopia, mas antes como uma realidade que se pode viver e que faz viver...Particularmente as novas gerações têm necessidade de ser introduzidas na Palavra de Deus «através do encontro e do testemunho autêntico do adulto, da influência positiva dos amigos e da grande companhia que a comunidade eclesial'. Pergunte-se: o 'sabor' que a Palavra lhe proporciona fica somente para sua própria 'degustação' ou você, missionário-missionária de Jesus, o tem partilhado com os que vivem ao seu redor, na sua família, na sua comunidade de convivência diária, no seu ambiente de trabalho?
Caríssimos: espero tê-los motivado o suficiente para a leitura, a reflexão e a colocação em prática da VD não só individualmente,mas em seus grupos e comunidades , deixo a todos o meu carinhoso abraço fraterno.
José Gilberto Beraldo
Grupo Sacerdotal do Grupo Executivo Nacional do MCC
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