“O Senhor escolheu outros setenta e dois e enviou-os, dois a dois, à sua frente, a toda cidade e lugar para onde ele mesmo devia ir. E dizia-lhes: ‘A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para sua colheita’.” (Lc 10,1-2).
Muito amados irmãos e irmãs, leitores e leitoras que, “entre todas as nações”, buscam identificar-se como discípulos missionários, como enviados de Jesus:
No mês de outubro de cada ano, a Igreja Católica celebra o MÊS DAS MISSÕES e, no último domingo, o DIA MUNDIAL MISSIONÁRIO. Portanto, não é somente oportuno como, até, obrigatório que na carta deste mês tratemos desse assunto tão importante e urgente. Nisso somos guiados, orientados e iluminados por um dos Documentos mais significativos da história da Igreja da América Latina, o Documento de Aparecida (DAp). Desde seu lema inspirador, “Discípulos missionários de Jesus Cristo para que nEle nossos povos tenham vida” “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6), até o último parágrafo, o DAp vai iluminando o seu tema central, isto é, a missão evangelizadora da Igreja, e é todo impregnado de “missão”, respirando-a e transpirando-a até chegar a um apelo, que eu diria quase dramático, e ao lançamento de uma Grande Missão Continental, para a América Latina e Caribe, concretização do mandato de Jesus: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações” (Mt 28,19). Deixemo-nos, pois, envolver por essa luz, “um novo Pentecostes”, como nos diz o DAp. Também, já há algum tempo, as mesma luz foi acesa pelo Papa Paulo VI com outro precioso documento, a Exortação Apostólica “Evangelii Nuntiandi” (EN) ou “A Evangelização no Mundo Contemporâneo”. Convido-os, pois, meus amados, a abrir algumas janelas que nos ajudem a ver e assumir com maior determinação esse desafiante processo de “fazer discípulos”.
1. Primeira janela: o que é “missão”? É uma tarefa a ser executada, um compromisso de levar até o fim algo que foi encomendado e aceito por alguém. No nosso caso, é aceitar e levar a termo a tarefa para cuja execução Jesus envia seus discípulos, a tarefa de anunciar o Reino de Deus: “O Senhor escolheu outros setenta e dois e enviou-os, dois a dois, à sua frente... (Lc 10,1). Aceitar a missão evangelizadora é cultivar a mentalidade de ser enviado, de “sair”, isto é, deixar o comodismo, os braços cruzados, a realização dos próprios interesses. É esquecer-se da passividade e da tranquilidade dos templos e “ir”: “Necessitamos sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e compartilhar o dom do encontro com Cristo, que tem preenchido nossas vidas de “sentido”, de verdade e de amor, de alegria e de esperança! Não podemos ficar tranquilos em espera passiva em nossos templos, mas é imperativo ir em todas as direções para proclamar que o mal e a morte não têm a última palavra, que o amor é mais forte, que fomos libertos e salvos pela vitória pascal do Senhor da história, que Ele nos convoca na Igreja, e quer multiplicar o número de seus discípulos na construção de seu Reino em nosso Continente” (DAp 548). O fiel cumprimento dessa missão nada mais é do que evangelizar. E, evangelizar é vocação e missão de toda a Igreja; vocação e missão de cada cristão católico, de cada batizado; é sua missão, meu querido irmão, minha querida irmã.
2. Segunda janela: quem é o missionário? a) É alguém enviado, como um dos setenta e dois, para executar uma missão, uma tarefa indo adiante de Jesus. É todo aquele e aquela que afirma ser discípulo e seguidor do Mestre Jesus e que assume executar a mesma missão que Ele assumiu diante do Pai, sempre dispostos a “recomeçar a partir de Cristo”: “Todos os batizados são chamados a “recomeçar a partir de Cristo”, a reconhecer e seguir sua Presença com a mesma realidade e novidade, o mesmo poder de afeto, persuasão e esperança, que teve seu encontro com os primeiros discípulos nas margens do Jordão, há 2000 anos, e com os “João Diego” do Novo Mundo. Só graças a esse encontro e seguimento, que se converte em familiaridade e comunhão, transbordante de gratidão e alegria, somos resgatados de nossa consciência isolada e saímos para comunicar a todos a vida verdadeira, a felicidade e a esperança que nos tem sido dada a experimentar e nos alegrar” (DAp 549). b) São os Movimentos e Comunidades Eclesiais. Refiro-me aqui, especificamente, ao Movimento de Cursilhos de Cristandade. Se em muitos lugares e desde suas origens, portou-se como discípulo, agora é a hora de, impulsionado por seu carisma, ser “fermento de evangelho nos ambientes”, fazer a releitura de sua vocação missionária, sobretudo em nossa América Latina:” Os novos movimentos e comunidades são um dom do Espírito Santo para a Igreja. Neles, os fiéis encontram a possibilidade de se formar na fé cristã, crescer e se comprometer apostolicamente até ser verdadeiros discípulos missionários” (DAp 311). Apliquemos ao Movimento estas palavras do Papa Paulo VI: “Finalmente, aquele que foi evangelizado, por sua vez, evangeliza... não se pode conceber uma pessoa que tenha acolhido a Palavra e se tenha entregado ao Reino sem se tornar alguém que testemunha e, por seu turno, anuncia essa Palavra” (EN 24).
3. Terceira janela: onde e como ser missionário? Onde quer que viva, esteja ou passe, o discípulo de Jesus pode vivenciar sua missão de evangelizador. Missionário não é apenas – como se pensava não há muito tempo – aquele que abandona sua pátria e sua família para dedicar-se à evangelização em geografias distantes (ainda que isso continue sendo absolutamente urgente, como afirma o DAp 548 que a chama de “missão ad gentes”. Missionário é aquele e aquela que encarna os critérios e valores do Evangelho e assim os testemunha por seus atos e procedimentos na sua vida cotidiana, por suas palavras e ações.
4. Quarta janela: exigências para ser discípulo missionário. Julgo suficiente para a nossa reflexão indicar a leitura de todo o Capítulo VI do DAp, “O caminho de formação dos discípulos missionários” que insiste numa exigência básica – a formação – e indica seus caminhos.
Concluindo... Meu irmão, minha irmã: sua família, seu bairro, seu ambiente de trabalho e lazer, a grande comunidade formada por todos aqueles com quem você convive, são os locais do exercício de sua atividade missionária, onde você deve fazer, ao mesmo tempo, a experiência do Espírito Santo, que “Não é uma experiência que se limita aos espaços privados da devoção, mas que procura penetrá-los completamente com seu fogo e sua vida. O discípulo e missionário, movido pelo estímulo e ardor que provêm do Espírito, aprende a expressá-lo no trabalho, no diálogo, no serviço e na missão cotidiana” (DAp 284). Jesus espera que você caminhe atrás dEle: “E percorria os povoados da região, ensinando” (Mc 6,7).
Meu abraço fraterno e carinhoso.
Pe. José Gilberto Beraldo
Grupo Sacerdotal do MCC
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