Ai de mim se não anunciar o evagenlho

sábado, 11 de dezembro de 2010

CARTA MCC DEZ/2010



“Foi num deserto que o Senhor achou seu povo,
num lugar de solidão desoladora; cercou-o de cuidados e carinhos
 e o guardou como a pupila dos seus olhos” (Deuteronômio 32,10).

Meus amados no Senhor Jesus cujo nascimento aguardamos com santa expectativa:

Desde logo não se assustem com uma citação bíblica inusitada para este tempo tão cheio de luzes como o Natal e, talvez, tão “estranha” como esta tirada do livro do Deuteronômio (provavelmente do séc. V antes de Cristo). Espero que logo vocês me compreendam. Meus leitores já sabem que, como é natural, costumo direcionar nossas reflexões do mês de dezembro para o insondável mistério do Advento e do Natal que, juntamente com a Páscoa da Ressurreição, constitui-se no eixo fundante e na razão de nossa fé e marca profundamente a história da salvação.

1.                  Um tempo de espera
a)                  À espera de um nascimento sem bebê. Esta é a espera de uma sociedade típica do nosso tempo, a sociedade de uma época em mudança. A cada ano, já por volta do final do mês de setembro, acabo fixando mais minha atenção nos acontecimentos, na publicidade da mídia, na insistência desmedida e calculada para a venda dos chamados “produtos de natal”, dos brinquedos e dos presentes; vou observando os esforços para ver quem ergue a maior árvore de natal do mundo, ou que apresenta o boneco do papai Noel mais original da cidade, ou qual shopping center que apresenta as maiores atrações natalinas. Tudo isto acompanhado obsessivamente pelas expressões que vão agredindo nossos tímpanos, ensurdecendo nossos ouvidos e, com tantas feéricas luzes, atrapalhando nossa visão, tendo, até, com pano de fundo, aquelas maravilhosas melodias compostas especialmente para a celebração de um misterioso nascimento: “magia do natal”, “espírito do natal”, “Papai Noel”, etc.. Mentalmente vou comparando tudo isso com o que aconteceu em outros natais e, com tristeza ou preocupação – não sei dizer - vou percebendo como a sociedade consumista vai-se distanciando sempre mais da originalidade dos acontecimentos que marcam esta data sagrada; pior, como o consumismo, a ganância, a sede insaciável do ter e do prazer vão alimentando e reforçando uma mentalidade cada vez mais distante do mistério central que nada tem de mágico, mas que tem tudo a ver com uma realidade inexplicável, com profundas repercussões na história e na vida de cada ser humano. Quem vive imbuído desta mentalidade, pensa natal como um nascimento sem bebê; simplesmente comemora o natal, isto, é faz dele uma mais ou menos apagada memória, dele tem uma esmaecida lembrança. A citação acima tem tudo a ver com esta sociedade figurada como um “deserto”, um “lugar de desolação” em relação à explosão de Vida que deve acontecer no Natal.
b)                À espera do nascimento de um Cristo-bebê, enviado pelo Pai, Palavra e Filho de Deus.  É neste “deserto”, neste “lugar de solidão desoladora” que o Senhor quis desde sempre e continua querendo “achar o seu povo” e “cercá-lo de cuidados e carinhos”, enviando, para esta tarefa e missão o seu próprio Filho. Muito oportunamente o papa Bento XVI  inicia o Advento perguntando à Igreja e a cada cristão se é possível viver o Natal num “clima” de distanciamento cada vez mais acentuado do projeto de salvação anunciado e vivido por Jesus. É o clima de uma “solidão desoladora”, de uma cultura vazia de sentido em relação ao projeto do Pai; mas é ali que estamos sendo alcançados pelo Senhor que, como nos tempos do Deuteronômio, anda em busca do seu povo, ansioso por “cercá-lo de cuidados e carinhos”. Então, cabem aqui a pergunta ou perguntas: como você está se preparando para deixar-se encontrar pelo Senhor através de seu Filho feito carne? Aliás, você consegue visualizar este cenário de “deserto”, de “solidão desoladora” e, portanto, também você e sua comunidade conseguem descobrir no Natal que o Senhor quer guardá-los como a “pupila dos seus olhos”? E que ou quem são as pupilas dos olhos do Pai? Deixe-me ajudá-lo a dar a resposta: são Jesus, você e toda a humanidade resgatada da “solidão desoladora”. 
2.                Um tempo de celebração. Advento – iniciado no domingo último - e Natal, são tempos de imersão profunda no mistério insondável do amor que manifesta a ternura do coração de um Pai misericordioso. Advento, expectativa, esperança de um novo nascimento, tempo de celebração. Nossa fé nos diz que Cristo continua vivo no meio de nós e em cada um de nós. Entretanto, o Advento que prepara este novo nascimento e o Natal que o vivencia, trazem-nos à realidade de uma renovada presença. Por isso, essa noite do Natal é feliz; essa noite é intensamente iluminada; essa é a noite na qual, como num deserto e num lugar de solidão, o Senhor “acha o seu povo” e o “cerca de cuidados e carinho” e, sobretudo, “guarda-o como a pupila de seus olhos”. A pupila é, sem dúvida, a parte mais sensível e delicada da nossa visão. Por isso, tudo fazemos para dela cuidarmos e é com carinho que o fazemos. É a linda e perfeita imagem do carinho de Deus para com a humanidade, concretizado na presença do seu Filho amado, o Cristo Jesus.  Advento e Natal, para aqueles que buscam vivê-los na intensidade da fé, são momentos privilegiados de encontro, de participação, de vivência encarnada, saboreada na interioridade do mistério. Quem assim entende este tempo, celebra o Natal e não, simplesmente, o comemora. E celebra o Natal buscando encarnar em si mesmo e na comunidade a Palavra de Deus. Natal não é magia como querem impingir-nos os meios de comunicação. Natal é a Encarnação do amor, da ternura e da misericórdia do Pai. Portanto, Natal é compromisso. De Deus conosco. Nosso com Deus, com o mundo, com toda a humanidade.
3.                  Esperança e votos. É na dimensão da vivência do mistério do Filho de Deus encarnado que nos é lícito acender e alimentar a nossa esperança de que o Senhor nos vai encontrar neste deserto e nesta solidão de uma sociedade, de uma cultura que dEle já está tão distanciada e, com certeza vai-nos cercar de todo o cuidado e carinho. Viveremos, assim, novos tempos e novas dimensões do amor concretizado em tempos de não-violência, em tempos de solidariedade, em tempos de perdão entre as pessoas e entre todos os povos da terra. Em suma, em tempos de fraternidade e de justiça. Pois, “nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado. O poder de governar está nos seus ombros. Seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus forte, Pai para sempre, Príncipe da Paz” (Is  9,6).  E quando toda a humanidade, a começar por nós mesmos, abrir seus braços e seu coração para O receber, então continuará a se realizar, em plenitude, a visão de Isaias, já uma vez acontecida na história: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz, para os que habitavam as sombras da morte uma luz resplandeceu” (Is 9,1). Nesse espírito e na autêntica dimensão do mistério da Encarnação, é que, em meu nome e em nome do Grupo Executivo Nacional por cuja delegação escrevo estas cartas mensais, desejo a todos os meus queridos e fieis leitores e leitoras um fecundo Advento e um Santo e felicíssimo NATAL de 2010!

Pe. José Gilberto Beraldo
Equipe Sacerdotal do MCC