Ai de mim se não anunciar o evagenlho

sábado, 30 de outubro de 2010

CARTA MCC NOV 2010

“Nele (em Cristo), Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo,
para sermos santos e íntegros diante dele, no amor”  (Ef 1,4).
“Deus nos salvou e nos chamou com uma vocação santa, não em atenção às nossas obras,
mas por causa do seu plano salvífico e de sua graça,
que nos foi dada no Cristo Jesus antes de todos os tempos” (2Tm 1,9).
 “Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade” (1Ts 4,7).

Amados e amadas no Deus-Santo, no Deus-Amor, no Deus-Ternura, no Deus-Pai e Mãe:

Entre outras comemorações do mês de novembro, penso que nós, caentre tantas vozes de um mundo a cada dia mais barulhento, mais inquieto, mais apelativo, tólicos, motivados pela Solenidade de Todos os Santos, logo no início do mês (na Igreja do Brasil, neste ano transferida do dia primeiro – por ser dia de semana para o domingo, 07), deveríamos ocupar-nos mais detidamente com uma reflexão sobre a santidade. Como santos, nesta Solenidade, a Igreja quer celebrar tanto os conhecidos e canonizados que não tiveram memórias especiais nos demais dias do ano, como os desconhecidos e anônimos, irmãos e irmãs nossos, heróicos no seguimento das pegadas de Jesus e fiéis nas virtudes evangélicas. Entretanto, observa-se que na cabeça de muito católico o conceito de santidade ainda está quase que restrito ao altar com a imagem do santo (a) de sua devoção ou à veneração de santos (as) canonizados (as) pela Igreja. Trata-se, porém, de um conceito, senão incorreto, pelo menos muito limitado do que seja a santidade. Talvez, por isso, explica-se a existência de um culto aos santos que é desproporcional em relação, por exemplo, à Eucaristia. Proponho, então, apresentar-lhes alguns pontos inspirados na Palavra de Deus anunciada pela palavra São Paulo e lembrada acima, tendo como tema central a vocação do cristão à santidade.

1.                No que consiste a santidade. Já no Antigo Testamento Javé convidava o povo de sua eleição a que fosse “santo” como Ele mesmo é santo: “Santificai-vos e sede santos, porque eu sou santo” (Levítico 11,44). Ora, Deus é santo porque, essencialmente, é Amor, como nos ensina São João (Cf.1Jo 4,16). Brotando da essência do Deus-Amor, a santidade nada mais é do que viver o amor: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Cf. Mt 22,39; Mc 12,31; Lc 10,27). Portanto, na palavra de Jesus, muito além do sacerdote e do levita, o samaritano foi um santo que amou o ferido e abandonado na sarjeta mais do que a si mesmo. São Paulo nos diz que santidade é ser “santo e íntegro” diante dEle, no amor. Então, meu irmão, minha irmã, aqui está a síntese da definição de santidade: AMOR e AMAR! Se você quiser avaliar seu conceito de santidade, avalie, antes de tudo, as dimensões do seu amor a Deus e ao próximo. Tudo o mais na busca da santidade nasce do AMOR: oração, renúncia, penitências corporais, sacrifícios, etc..

2.                A vocação para a santidade.  São Paulo nos diz que Deus, através de Jesus Cristo, a todos nos chamou com uma vocação santa (Cf.2Tm1,9) e, portanto, à própria santidade. Pois, se a santidade brota da essência do amor que é o nosso Deus-Amor, o chamado para a santidade nasce no coração do próprio Deus. Também São Pedro, lembrando o Levítico, nos admoesta: “Antes, como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos, também vós, em todo o vosso proceder. Pois está na Escritura: ‘Sereis santos porque eu sou santo” (1Pd 1,15-16). É no sacramento do batismo que nos purifica e nos introduz na intimidade da filiação divina, que vamos encontrar a vocação, ou seja, ouvir o chamado à santidade. São Paulo, como lemos acima, afirma que “Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade” (1Ts 4,7). Portanto, meus amados, não busquemos nenhuma desculpa para não ouvir a voz do Deus-Amor. A não ser que a “impureza”, a injustiça, o desamor, a violência, a vaidade, o orgulho ou os excessivos ruídos que nos cercam e que em nós penetram, nos tenham deixado surdos e surdas!

3.                A resposta ao chamado. Nosso Deus-Amor fez a sua parte: abriu seu terno coração e nos chamou à santidade, isto é, introduziu-nos na vivência do Amor. Amor que se traduz, como ensina Jesus, na prática do amor ao próximo, na vivência das bem-aventuranças e do Pai-Nosso. Implícita ou explícita, qualquer chamado espera uma resposta. E, agora? O Pai também espera uma resposta. A sua resposta. Resposta que a gente vai dando em todos os momentos da vida. Resposta que será dinâmica enquanto tivermos coragem para renovar o compromisso fundamental da fidelidade ao chamado; resposta repetida desde o nascer ao por do sol, pela manhã, à tarde e à noite, à medida que vamos relendo as circunstâncias pessoais e históricas que tecem a nossa vivência. Você, meu irmão, minha irmã, está disposto a responder com o amor nascido no seu coração ao chamado que Deus lhe faz para a santidade? Ou, até quando Ele deverá esperar sua decisão? Nossa sorte é que o Senhor nosso Pai-Mãe é paciente, “é misericordioso e compassivo, lento para a cólera e rico em bondade” (Cf. Sl 103,8).

4.                Desafios à busca da santidade. É fácil ser santo? Ser santa? Supondo que você tenha dado uma resposta positiva ao chamado de Deus à santidade, lembre-se que, apesar de todos os nossos anseios, nem sempre o caminho em busca da santidade se apresenta totalmente livre, sem qualquer obstáculo. Pelo contrário, quanto mais aspiramos alcançá-la, maiores poderão parecer as dificuldades, pois vai-se amadurecendo nossa  capacidade de discernir e, portanto, de melhor afinar os ouvidos para ouvir o Senhor que nos chama à santidade.  Onde antes não ouvíamos qualquer sussurro vindo dEle, hoje, com ouvidos mais sensíveis, entre tantas vozes de um mundo a cada dia mais barulhento, mais inquieto, mais apelativo, podemos perceber a voz de Jesus que nos convida a entrar por uma “porta estreita” (Cf.Mt 7,13); a “negar-nos a nós mesmos e tomarmos a cruz de cada dia” (Cf.Mt 16,24; Mc 8,34; Lc 9,23). É palmilhando os caminhos nas pegadas de Jesus; é assumindo o firme compromisso do seguimento do Mestre que, apesar de todas as nossas limitações e fraquezas, chegaremos à santidade, ou seja, à perfeição do amor: “Sede, portanto, perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). É fundamental que tenhamos sempre gravado na mente e “tatuado” no coração que: “Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade” (1Ts 4,7).

Permitam-me, meus amados, encerrar esta carta ousando fazer minhas as mesmas palavras que São Paulo, já saudoso, dirigia a seus irmãos e irmãs de Roma: “A vós todos que estais em Roma, amados de Deus e santos por vocação, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e de nosso Senhor, Jesus Cristo” (Rm 1,7).


Pe. José Gilberto Beraldo
Grupo Sacerdotal do MCC

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Carta MCC Outubro 2010

“O Senhor escolheu outros setenta e dois e enviou-os, dois a dois, à sua frente, a toda cidade e lugar para onde ele mesmo devia ir. E dizia-lhes: ‘A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para sua colheita’.” (Lc 10,1-2).

Muito amados irmãos e irmãs, leitores e leitoras que, “entre todas as nações”, buscam identificar-se como discípulos missionários, como enviados de Jesus:

No mês de outubro de cada ano, a Igreja Católica celebra o MÊS DAS MISSÕES e, no último domingo, o DIA MUNDIAL MISSIONÁRIO. Portanto, não é somente oportuno como, até, obrigatório que na carta deste mês tratemos desse assunto tão importante e urgente. Nisso somos guiados, orientados e iluminados por um dos Documentos mais significativos da história da Igreja da América Latina, o Documento de Aparecida (DAp). Desde seu lema inspirador, “Discípulos missionários de Jesus Cristo para que nEle nossos povos tenham vida” “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6), até o último parágrafo, o DAp vai iluminando o seu tema central, isto é, a missão evangelizadora da Igreja, e é todo impregnado de “missão”, respirando-a e transpirando-a até chegar a um apelo, que eu diria quase dramático, e ao lançamento de uma Grande Missão Continental, para a América Latina e Caribe, concretização do mandato de Jesus: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações” (Mt 28,19). Deixemo-nos, pois, envolver por essa luz, “um novo Pentecostes”, como nos diz o DAp. Também, já há algum tempo, as mesma luz foi acesa pelo Papa Paulo VI com outro precioso documento, a Exortação Apostólica “Evangelii Nuntiandi” (EN) ou “A Evangelização no Mundo Contemporâneo”. Convido-os, pois, meus amados, a abrir algumas janelas que nos ajudem a ver e assumir com maior determinação esse desafiante processo de “fazer discípulos”.

1. Primeira janela: o que é “missão”? É uma tarefa a ser executada, um compromisso de levar até o fim algo que foi encomendado e aceito por alguém. No nosso caso, é aceitar e levar a termo a tarefa para cuja execução Jesus envia seus discípulos, a tarefa de anunciar o Reino de Deus: “O Senhor escolheu outros setenta e dois e enviou-os, dois a dois, à sua frente... (Lc 10,1). Aceitar a missão evangelizadora é cultivar a mentalidade de ser enviado, de “sair”, isto é, deixar o comodismo, os braços cruzados, a realização dos próprios interesses. É esquecer-se da passividade e da tranquilidade dos templos e “ir”: “Necessitamos sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e compartilhar o dom do encontro com Cristo, que tem preenchido nossas vidas de “sentido”, de verdade e de amor, de alegria e de esperança! Não podemos ficar tranquilos em espera passiva em nossos templos, mas é imperativo ir em todas as direções para proclamar que o mal e a morte não têm a última palavra, que o amor é mais forte, que fomos libertos e salvos pela vitória pascal do Senhor da história, que Ele nos convoca na Igreja, e quer multiplicar o número de seus discípulos na construção de seu Reino em nosso Continente” (DAp 548). O fiel cumprimento dessa missão nada mais é do que evangelizar. E, evangelizar é vocação e missão de toda a Igreja; vocação e missão de cada cristão católico, de cada batizado; é sua missão, meu querido irmão, minha querida irmã.

2. Segunda janela: quem é o missionário? a) É alguém enviado, como um dos setenta e dois, para executar uma missão, uma tarefa indo adiante de Jesus. É todo aquele e aquela que afirma ser discípulo e seguidor do Mestre Jesus e que assume executar a mesma missão que Ele assumiu diante do Pai, sempre dispostos a “recomeçar a partir de Cristo”: “Todos os batizados são chamados a “recomeçar a partir de Cristo”, a reconhecer e seguir sua Presença com a mesma realidade e novidade, o mesmo poder de afeto, persuasão e esperança, que teve seu encontro com os primeiros discípulos nas margens do Jordão, há 2000 anos, e com os “João Diego” do Novo Mundo. Só graças a esse encontro e seguimento, que se converte em familiaridade e comunhão, transbordante de gratidão e alegria, somos resgatados de nossa consciência isolada e saímos para comunicar a todos a vida verdadeira, a felicidade e a esperança que nos tem sido dada a experimentar e nos alegrar” (DAp 549). b) São os Movimentos e Comunidades Eclesiais. Refiro-me aqui, especificamente, ao Movimento de Cursilhos de Cristandade. Se em muitos lugares e desde suas origens, portou-se como discípulo, agora é a hora de, impulsionado por seu carisma, ser “fermento de evangelho nos ambientes”, fazer a releitura de sua vocação missionária, sobretudo em nossa América Latina:” Os novos movimentos e comunidades são um dom do Espírito Santo para a Igreja. Neles, os fiéis encontram a possibilidade de se formar na fé cristã, crescer e se comprometer apostolicamente até ser verdadeiros discípulos missionários” (DAp 311). Apliquemos ao Movimento estas palavras do Papa Paulo VI: “Finalmente, aquele que foi evangelizado, por sua vez, evangeliza... não se pode conceber uma pessoa que tenha acolhido a Palavra e se tenha entregado ao Reino sem se tornar alguém que testemunha e, por seu turno, anuncia essa Palavra” (EN 24).

3. Terceira janela: onde e como ser missionário? Onde quer que viva, esteja ou passe, o discípulo de Jesus pode vivenciar sua missão de evangelizador. Missionário não é apenas – como se pensava não há muito tempo – aquele que abandona sua pátria e sua família para dedicar-se à evangelização em geografias distantes (ainda que isso continue sendo absolutamente urgente, como afirma o DAp 548 que a chama de “missão ad gentes”. Missionário é aquele e aquela que encarna os critérios e valores do Evangelho e assim os testemunha por seus atos e procedimentos na sua vida cotidiana, por suas palavras e ações.

4. Quarta janela: exigências para ser discípulo missionário. Julgo suficiente para a nossa reflexão indicar a leitura de todo o Capítulo VI do DAp, “O caminho de formação dos discípulos missionários” que insiste numa exigência básica – a formação – e indica seus caminhos.

Concluindo... Meu irmão, minha irmã: sua família, seu bairro, seu ambiente de trabalho e lazer, a grande comunidade formada por todos aqueles com quem você convive, são os locais do exercício de sua atividade missionária, onde você deve fazer, ao mesmo tempo, a experiência do Espírito Santo, que “Não é uma experiência que se limita aos espaços privados da devoção, mas que procura penetrá-los completamente com seu fogo e sua vida. O discípulo e missionário, movido pelo estímulo e ardor que provêm do Espírito, aprende a expressá-lo no trabalho, no diálogo, no serviço e na missão cotidiana” (DAp 284). Jesus espera que você caminhe atrás dEle: “E percorria os povoados da região, ensinando” (Mc 6,7).

Meu abraço fraterno e carinhoso.

Pe. José Gilberto Beraldo
Grupo Sacerdotal do MCC