Pe. José Gilberto Beraldo
Ao participar de um Cursilho pela primeira vez, em 1967, um dos seus impactos mais significativos para mim - naquela época sacerdote já há quase dez anos - foi o silêncio solicitado na primeira noite. Digo mal, não solicitado, mas como que imposto.Com o passar do tempo, trabalhando em dezenas e dezenas de outros Cursilhos, é que pude dar-me conta da importância e valor do silêncio naquele exato momento. Se você for um dos responsáveis do MCC, você sabe do que estou falando.
Depois de tantos e tantos cursilhos, estou mais convencido ainda de sua absoluta necessidade. Não já como imposição, mas agora mostrando claramente sua oportunidade e necessidade. Aliás, técnicas atuais de meditação e interiorização, ainda que nada ou muito pouco tendo a ver com esta ou aquela religião, estão valorizando o silêncio e a meditação pessoal. Até empresas modernas têm introduzido a possibilidade de momentos de silêncio. E o fazem com vistas a que? A que os funcionários reencontrem seu ponto de equilíbrio para que a produção seja mais eficiente.Pois bem: o silêncio que solicitamos na primeira noite do Cursilho parece seguir uma tradição enraizada na espiritualidade espanhola, a dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola. Parece que os iniciadores do MCC adotaram essa tradição que visa a mostrar aos cursilhistas seus benefícios, estando no contexto do clima que desejamos criar durante todo o tempo de duração do próprio Cursilho. Ao sugerir que “nos afastemos do mundo” (agora prevendo, também, os sinais sonoros ou vibratórios dos telefones celulares...) pretendemos dizer que qualquer interferência externa oderia ser prejudicial num tão raro e importante momento na vida de uma pessoa. Que é, sem dúvida, o momento do discernimento sobre sua opção de vida e sobre os rumos que ela deverá tomar daí para a frente. Tudo o que vier de fora, neste precioso “intervalo” na vida cotidiana do cursilhista, será, portanto, uma intromissão indébita. Virá interferir nas decisões e projetos de vida do cursilhista. Virá, como costumamos dizer, “quebrar o silêncio”, tradicionalmente ligado ao canto do de Colores logo na manhã do primeiro dia. Não o silêncio de boca, mas o grande silêncio da oportunidade que lhe é oferecida.
Num dos documentos referenciais do MCC lê-se que “o retiro da primeira noite (= silêncio) é uma amada... à autenticidade reflexiva e sincera, diante da realidade de Deus, Pai do filho pródigo, que está se proximando de nós... e nos contempla. Não é outra coisa senão atualizar o costume e a atitude do Senhor que, antes dos grandes acontecimentos de sua vida apostólica, se retirava e se preparava, durante a noite, nosilêncio e na oração.... o fim do retiro é predispor (o cursilhista) ao chamamento de Deus, despertando uma atitude de busca e procurando que esta inquietação seja sadia, reta sincera e esperançosa” (Cf “Ideário” p.83). Ora, naturalmente pode-se deduzir que tal atitude será apropriada para durante toda a duração do Cursilho.
Neste contexto é que entra a introdução de alguns corpos alheios ao Cursilho e, por isso, extremamente prejudiciais ao cursilhista. Um desses “corpos estranhos” são as tais “mensagens”, cartas, cartões, bilhetinhos e outros recados coletados entre familiares e amigos.
Provenientes do antigo costume de ler-se as “alavancas”, foram estas, pouco a pouco, sendo entregues nas mãos dos participantes. Daí à entrega de bilhetes, de cartas e de “mensagens” cujos conteúdos mais apelam à emotividade forçada do que favorecem uma parada consciente do participante, foi um passo. Tem-se conhecimento de certo GED que permite, a certa altura do Cursilho, a entrada de uma pessoa fantasiada de carteiro que despeja, diante dos cursilhistas atônitos e “emocionados” um saco de correspondência que traz às costas (acredite se quiser...). Acrescente-se que outros movimentos, alguns até originados de nossos Cursilhos, levaram tal iniciativa ao exagero tentando introduzi-la na origem. De forma que, em certos Cursilhos, enquanto alguns recebem uma verdadeira enxurrada de mensagens, outros ficam “esquecidos”... Esse é um dos aspectos nocivos dessa “invenção” estranha à dinâmica do Cursilho. O outro, pior talvez e mais grave, está na introdução de elementos que em nada ou em muito pouco ajudam a opção e o sério compromisso de conversão do cursilhista.
Opção e compromisso que ele deveria assumir, só ele mergulhado no silêncio de seu coração, de sua mente e de todo o seu ser diante da misericórdia e do infinito amor de Deus. Dê-se-lhe, por favor, um tempo! Deixemo-lo, pelo menos por algumas horas, dono de suas próprias decisões! O homem e a mulher desta nossa tão controvertida pós-modernidade têm necessidade de um pouco de solidão e de interiorização.
Ofereçamos um presente original a esses homens e a essas mulheres que estão participando de um Cursilho. Ofereçamos a eles o grande, imenso, oportuno e precioso presente do nosso silêncio solidário abstendo-nos de tais interferências. Deixemo-los, finalmente, a sós com Deus! Pelo menos nestes três dias que podem ser decisivos!
Amanhã, tenho certeza absoluta, eles e elas haverão de nos agradecer!
http://www.cursilho.org.br/
Amanhã, tenho certeza absoluta, eles e elas haverão de nos agradecer!
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