quarta-feira, 21 de abril de 2010

VIGIAI E ORAI – SÓ PALAVRAS?

Na minha infância, no povoado de Aroeira, eu ficava perturbado ao ouvir as badaladas do sino da pequena capela de São Joaquim, pois isso só acontecia quando alguém morria ou em período de festa do padroeiro ou dia de missa – que acontecia uma vez por ano. Na minha compreensão infantil, achava que toda vez que o sino era tocado era o sinal que a morte estacionara na casa de alguém! Eu chorava, pois não entendia o significado do badalar do sino que era triste e na minha compreensão aquele som anunciava que alguém havia morrido. Temia ser alguém da minha família e corria para casa numa desenfreada velocidade e só me aquietava quando via todos os meus familiares, principalmente, minha mãe.

Hoje, adulto e chegando à terceira idade, choro por outros motivos, mais por indignação e pela incapacidade de resolver problemas do que pelo desconforto da perda de um conhecido que se foi. Digo isso porque as minhas lágrimas poderiam ser evitadas se a Igreja que amo e divulgo, colocasse em prática o que nos ensina. O “Vigiai e orai” que se restringe ao campo das emoções colocando de lado o verdadeiro significado de vigiar: observar com atenção, cuidar de, zelar, estar de sentinela. Tudo isso se dilui por sentimentos pouco recomendáveis a cristãos que assumiu um compromisso com a causa de Jesus Cristo. É muito cômodo entretanto, omitir-se deixando o que nos é mais caro se exaurir e depois deixar descer pelas vias das emoções e da piedade piega. Eu continuo chorando, não mais pelas coisas que não compreendo, mas pelas coisas que percebo estarem erradas e me sentir impotente para resolve-las.

Diz o escritor Augusto Cury: “ A vida é o maior espetáculo no palco da existência.” E mais, aprendemos na nossa Igreja católica que o maior dom dado ao ser humano é o dom da vida!. É a Graça de Deus se fazendo presente na composição de um ser que é sua imagem e semelhança. Entretanto, fico a me perguntar por que o ser humano não valoriza a graça de Deus que está no seu semelhante? Por que o dinheiro está acima de todas as coisas, ate mesmo da vida? Os valores defendidos por nós cristãos tornam-se paradoxais no momento que negamos tais valores divinos ao nosso irmão. Mt 25, 31-46 descreve o juízo final e enfatiza os escolhidos do nosso Senhor. Esquecemos de praticar a caridade. Não cause sofrimento a pessoa que está magoada diz o livro do Eclesiastico 4,3.

Mas, é bom que saibamos que viver a maior das aventuras que nós – pobres mortais – enfrentamos no cotidiano da nossa existência não é fácil, principalmente, quando a vida é tratada como um objeto descartável. Quem de nós gostaria de estar na pele do nosso amado Pe. ANTONIO ELIAS? Vitima de planos de saúde mercenários, sem nenhum comprometimento com a vida, sem nenhum valor ético a defender. A não ser o capitalismo monstruoso que destrói pessoas e enriquecem outros tantos, que obedecem apenas a lei do levar vantagem em tudo e do enriquecer sem o menor esforço.

Como se não bastasse o pouco caso das instituições de saúde, ainda brota um descaso mais doloroso do seio da Igreja da qual o nosso amado sacerdote pertence, quando permite que ele fique nos corredores dos hospitais, deitado numa maca, sendo testemunha de óbitos de outros irmãos carentes de assistência, vitimas da indigência e da falta de respeito pela obra mais perfeita da criação de Deus. Para ser Igreja é necessário passar pelo escárnio publico, e expor o nosso caríssimo sacerdote a um novo calvário?

O Poeta e filosofo hindu TAGORE escreveu: “Sonho com o dia em o bem derrotado vencerá o mal vitorioso.” Quem vai tentar derrotar o bem nós já temos: Os omissos, os levianos, os planos de saúde, os médicos mercenários, os carrascos que administram o capitalismo selvagem e os homens que se prendem as falsas emoções e se escondem por detrás das máscaras do falso pudismo.

Eu não vou chorar. Rezemos por Padre Elias. Pai nosso...

Texto do Professor Abelardo Mascarenhas


PAZ E BEM



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